Durante os muitos anos do mundo anterior, a expressão feminina se dava pela aceitação ou contestação da palavra masculina, geralmente a do marido. Hoje é diferente, não se trata nem de uma coisa, nem de outra, e, sim de escolher o que quer para si. A revolução feminina é simultânea à passagem do mundo moderno ao pós; do mundo industrial ao globalizado. O mundo moderno era vertical, padronizado; o mundo pós-moderno é horizontal, em rede. A mulher parece ligada a tudo, está a mil por hora, conectada aos quatro cantos do mundo.
Antes se lutava por oportunidade, contudo, hoje a mulher possui inúmeras. Há mais mulher no poder... isto é notícia diária, nas finanças sua contribuição é maior, nas funções se igualam aos homens, têm filhos aos 40, aos 50 anos. A mulher tomou, de fato, a responsabilidade pra si e em alguns casos tem eliminado a participação de qualquer outro. A mulher tende cada vez mais a absorver atividades e rotinas árduas sem dividir.
Mesmo que, de forma lenta e sutil o homem parece ter entendido essa mudança de paradigma: A mulher conquistou seu espaço no mundo e isso não se configura em problema, porém, a mulher está adoecendo com TAMANHA aceitação masculina. Quantas delas chegam à clínica com essa demanda: - Não agüento mais, ele não decide nada, não troca uma fralda, não sabe fazer mamadeira, se nosso filho não está bem na escola ele não se preocupa, eu é que monto o cronograma da viagem, ele tinha que ganhar melhor que eu, sou eu quem organizo e pago as contas, eu faço as compras, meu marido é um banana, quero que ele decida mais, que ele diga alguma coisa...
Caros leitores e leitoras, a mulher conquistou opções de escolha, mas, na clínica o que se percebe é que essa mulher globalizada sofre, clama e reclama por estar levando o mundo nas costas.
Porém, fica a inquietação, a participação do marido, namorado, ou seja, o homem realmente pôde tomar qualquer uma dessas posições reclamadas hoje? Ou teve que aquietar-se na certeza de que sua mulher as conduzia melhor? A mulher em sua onipotência (conquistada ao longo de décadas) se deixou ser ajudada, cuidada? Nas relações existem trocas, compartilhamento, abertura?
Enfim, será que a mulher sofre de um mal fruto de sua história de luta e batalha por reconhecimento? É possível que a mulher esteja confundindo a aceitação de seu companheiro com passividade? Será que essa postura forte e onipotente, que tantas possuem, está dificultando as relações amorosas? Diante de todas as conquistas será que se deixou a sensibilidade de compartilhar, de pedir ajuda ou até mesmo de reconhecer a importância que o outro possui sem que isso se conote em menos valia?
Sabe-se que cada caso é um caso, mas, é preciso refletir. Como mediar à conquista de toda uma vida com esses desencontros nos relacionamentos? É possível que a mulher se posicione, mas, também seja amante, cúmplice e carinhosa?
Abraços.
Dhiulliana Moura
CRP 01/15501